Asma
Asma é uma das doenças mais prevalentes, isto é, mais frequentes, no mundo. Como toda doença, temos desde a doença muito leve até a doença muito grave. Mas é a mesma doença. Existe desde aquela asma muito leve, que só causa tosse e no outro extremo, aquela asma muito grave em que o paciente vive internado, muitas vezes necessitando de UTI e até mesmo perecendo por causa dela.
Confunde-se o termo bronquite com asma. As pessoas tendem a achar que bronquite é uma doença mais leve e asma uma doença mais grave. Mas na imensa maioria das vezes, quando o leigo se refere a bronquite, está se referindo a asma. Por exemplo: “tinha bronquite quando era criança, com crises frequentes de chiadeira e falta de ar que melhoravam com inalação”. Isto é asma!
A confusão vem do fato de que a asma pode ser chamada também de asma brônquica ou bronquite asmática, que são sinônimos embora sejam termos menos usados hoje em dia. Toda asma é uma bronquite, mas nem toda bronquite é asma. Explico melhor. O termo “ite” (bronquite) quer dizer inflamação. Da mesma forma que existe amigdalite, gastrite, meningite, artrite e a lista das “ites” é longa, existe a bronquite; que nada mais é do que um processo inflamatório do brônquio. Este processo inflamatório pode ser causado por asma, por infecção de vias aéreas (gripes, influenza, coqueluche), pelo tabagismo (bronquite crônica do tabagismo), por inalação de gases tóxicos, dentre outras possibilidades. Então, para o médico, bronquite pode significar muitas coisas diferentes, mas quando a maioria dos leigos se refere à bronquite, está se referindo a asma ou, nos adultos com histórico de tabagismo, à bronquite crônica tabágica, pois ambas causam tosse, chiado no peito e falta de ar.
E afinal, o que é a asma? A asma caracteriza-se por um processo inflamatório nos brônquios (bronquite) causando edema da mucosa (a mucosa fica inchada) e fazendo com que essa mucosa secrete mais muco. Imagine um cano (brônquio) e dentro deste cano, um tecido de revestimento (mucosa). Se a mucosa incha, e ainda por cima secreta um muco denso que ocupa espaço, o que acontece com a luz (orifício, abertura) do brônquio? Ocorre um estreitamento desta via aérea – o brônquio fica mais estreito, o que dificulta a passagem do ar. E, quando ele se encontra inflamado, ele fica mais sensível (hipersensibilidade) à estímulos que causam broncoespasmo (contração da musculatura lisa que envolve o brônquio), causando um estreitamento ainda maior deste brônquio, podendo causar até sua oclusão (fechamento) completa durante a expiração. Os estímulos que causam este broncoespasmo podem ser: variações de temperatura, esforço físico, odores (perfumes, produtos de limpeza), poluição, cigarro, aeroalergenos com por exemplo pelo de gato, dentre uma infinidade de outros.
Os medicamentos mais conhecidos para o tratamento da asma são os broncodilatadores. Só que eles não tratam o principal componente da asma, que é a inflamação. O uso de broncodilatadores (aerolin, berotec, salbutamol, fenoterol, aminofilina, dentre outros) só relaxa momentaneamente a musculatura ao redor do brônquio, mas não reduz a inflamação nem a hipersensibilidade. Por isto, causa apenas um alívio temporário e o problema continua. O brônquio continua com a parte interna, a mucosa, inflamada (inchada) e o brônquio continua mais estreito do que deveria ser. Infelizmente, muitas pessoas só conhecem os broncodilatadores e não estão tratando sua asma. Broncodilatador não trata asma; broncodilatador só trata a crise de asma, mas não resolve o problema. O medicamento mais importante para o tratamento da asma é o corticoesteróide (corticóide), preferencialmente inalado. Ele desinflama a mucosa, e com isto o brônquio fica mais aberto e menos sensível ao desencadeamento de broncoespasmo. Só que o corticoide não age imediatamente, leva horas ou dias para fazer efeito, dependendo do grau de inflamação. Daí, quando uma pessoa com asma inala a “bombinha” do corticóide e não sente efeito nenhum (e não vai sentir mesmo, pois ele não tem efeito imediato e não age no relaxamento da musculatura) ela acaba abandonando o corticóide pois acha que não funciona.
A explicação acima é muito simplificada – mas creio que ajuda a compreender o que é a asma. Tem asma muito leve, que só dá crise poucos dias no ano, que só o broncodilatador resolve. Mas muitos pacientes que precisam do corticóide continuam usando só o broncodilatador por desconhecimento ou por não ter acesso à um atendimento especializado.
Abaixo, um desenho esquemático do que um brônquio normal, um brônquio inflamado, inflamado e com secreção e por último, com broncoespasmo. Perceba com a luz (parte interna do brônquio por onde o ar passa, fica cada vez mais estreita, dificultando a passagem do ar.
